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Gravidez

na adolescência

 

  A adolescência é uma espécie de preparação para o jovem assumir o papel de adulto que é, hoje em dia definido essencialmente por este ter um trabalho que garanta a sobrevivência de um lar. Ao mesmo tempo, a juventude é entendida como uma fase da vida que se caracteriza sobretudo pelo aumento da autonomia quando comparada com a infância do sujeito, permitindo assim ao sujeito que deixe o espaço doméstico e possa permanecer em espaços públicos como ruas e praças. Para a jovem adolescente este processo é mais difícil devido ao condicionamento culturais que limitam a sua autonomia na elaboração de projectos de vida, quase sempre exigindo que se mantenha nos limites do núcleo familiar.

    Cada vez mais cedo os jovens iniciam a sua vida sexual o que, muitas das vezes, provoca consequências indesejáveis: o aumento das doenças sexualmente transmissíveis (DST) e/ou a gravidez na adolescência que, por sua vez, poderá levar ao aborto. Quando a jovem inicia a sua vida sexual e esta tem como resultado a gravidez, a adolescente poderá apresentar problemas de crescimento e desenvolvimento, emocionais e comportamentais, educacionais e de aprendizado, além de poderem aparecer complicações durante a gravidez ou durante o parto.

    A gravidez na adolescência é multi-causal e sua etiologia está relacionada a uma série de aspectos que podem ser agrupados em:

                   1) Factores Biológicos

                   Cada vez existem mais jovens a engravidar em idades mais precoces. Tudo isto devido à idade da menarca ter-se adiantado em média quatro meses por década no nosso século, situando-se actualmente nos limites de 11,0 a 15,0 anos de idade. Sendo a menarca a resposta orgânica que reflecte a interacção dos vários segmentos do eixo neuroendócrino feminino, quanto mais cedo esta ocorrer mais exposta estará a adolescente exposta à gestação. Sendo que, nas classes economicamente mais baixas, existe um maior abandono e promiscuidade, menos informação, menor acesso à contracepção e daí a grande incidência da gestação na adolescência.

                   2) Factores de Ordem Familiar

                   O contexto familiar é um aspecto bastante importante no início da actividade sexual dos jovens. Estudos revelam que os adolescentes iniciam a sua vida sexual mais precocemente quando as mães engravidaram durante a adolescência ou, também elas, iniciaram cedo a sua vida sexual. Outro aspecto importante é a relação entre familiares, sendo que, quanto mais jovens e imaturos os pais maiores os desajustes e desagregação familiar. O papel dos irmãos também é de realçar pois, constata-se que em famílias cujos irmãos mais velhos tem uma vida sexual activa faz com que os irmãos mais novos iniciem mais precocemente a sua vida sexual.

                   3) Factores Sociais

                   O individuo como sujeito é sempre influenciado pela sociedade em que co-habita e pela sua própria família. A sociedade tem passado por profundas mudanças aceitando de melhor grado a sexualidade na adolescência, o sexo antes do casamento e, por sua vez, a gravidez na adolescência. Assim sendo, tabus, inibições e estigmas estão a diminuir cada vez mais mas, em contrapartida, a actividade sexual e a gravidez estão a aumentar.

                   Dependendo do contexto social em que o sujeito está inserido a gravidez pode ser encarada como um evento normal, não problemático sendo aceite dentro de suas normas e costumes. A identificação com a postura da religião relaciona-se com o comportamento sexual. Algumas investigações mostram que, por exemplo, a religião tem um papel importante como preditora de atitudes sexuais. Adolescentes em que a religião tem um papel fundamental apresentam um sistema de valores que os encoraja a desenvolverem um comportamento sexual responsável. Hoje em dia, as novas religiões evangélicas têm aumentado e são, de um modo geral, bastante rígidas no que diz respeito à prática sexual pré-marital. Alguns profissionais de saúde que trabalham com adolescentes têm a impressão de que as adolescentes que frequentem estas igrejas iniciam a sua prática sexual mais tardiamente, porém, é necessário realçar que não existem qualquer tipo de pesquisas que comprovem esta situação.

                   4) Factores Psicológicos e Contracepção

                   A utilização de métodos contraceptivos não ocorre de modo eficaz na adolescência e isso está vinculado inclusive aos factores psicológicos inerentes ao período pois, o adolescente nega a possibilidade de engravidar. Esta negação é tanto maior quanto menor for a faixa etária. Muitos dos adolescentes não assumem perante a família a sua sexualidade o que leva a esconder a maior prova de todas: a posse de contraceptivo seria a prova formal de que teriam uma vida sexual activa.

    A gravidez e o risco de engravidar podem estar também eles ligados a uma menor auto-estima, ao funcionamento intra-familiar inadequado ou à menor qualidade de actividades do seu tempo livre. Uma família que não dê o apoio e afecto necessário para o bom desenvolvimento de uma adolescente leva a que este crie uma baixa auto-estima, um mau rendimento escolar levando-a a buscar a maternidade precoce de forma a conseguir um afecto incondicional, talvez uma família própria, podendo assim reafirmar o seu papel de mulher, ou sentir-se indispensável a alguém.

    A facilidade de acesso à informação sexual por parte dos adolescentes não garante uma maior protecção contra as doenças sexualmente transmissíveis (DST) ou mesmo a gravidez.

    Engravidar na adolescência acarreta sérias implicações biológicas, emocionais e económicas que atingem tanto o individuo como ser individual como ser pertencente a um grupo (sociedade). A Organização Mundial de Saúde (OMS, 1977) considera a gravidez na adolescência como sendo de alto risco, tanto para a mãe como para o recém-nascido mas, actualmente, considera-se que o risco seja mais social do que biológico.

    Existe uma maior probabilidade de existirem complicações obstétricas durante uma gravidez na adolescência (principalmente em adolescentes bastante jovens). Podem existir problemas que vão desde a anemia, ganho de peso insuficiente, hipertensão, infecção urinária, DST, desproporção céfalo-pélvica, ou mesmo complicações puerperais. Porém, é necessário realçar, que muitas destas complicações se devem aos cuidados pré-natais como também ao adequado acompanhamento pré-natal, não existindo um maior risco de complicações obstétricas quando se comparam mulheres adultas e adolescentes ao mesmo nível sócio-económico.

   Outro ponto doloroso na gravidez na adolescência é a morte da mãe decorrente de complicações na gravidez, parto e puerpério. Cada vez mais a comunidade médica tem alertado para as consequências de uma gravidez na adolescência pois, a gravidez precoce põe em risco de vida tanto a mãe como o recém nascido. Na faixa dos 14 anos a mulher ainda não tem uma estrutura óssea e muscular adequada para o parto e isso significa uma alta probabilidade de risco tanto para a mãe como para o feto.

    As repercussões nutricionais serão tanto quanto maiores for a proximidade entre a menarca e a gestação, uma vez que é por esta altura que o processo de crescimento do jovem está a ocorrer. O crescimento materno pode sofrer interferências porque existe uma exigência extra requisitada para o crescimento fetal. A inundação hormonal da gestação promoverá soldadura precoce das epifíses nas adolescentes que engravidaram antes de terem completado o seu crescimento biológico prejudicando a estatura final da adolescente. É ainda na adolescência que existe uma maior necessidade de calorias, vitaminas e minerais e estas, em caso de gravidez, somam-se aquelas exigidas para o normal desenvolvimento do feto e posteriormente para a lactação.

    Outro factor importante é que uma adolescente ainda não tem a maturidade e estabilidade emocional necessárias para muitas das vezes conseguir adaptar-se ao seu novo papel de vida, podendo assim levar à depressão, ansiedade e hostilidade. É também de salientar que a taxa de suicídio nas adolescentes grávidas são mais elevadas quando comparadas às não grávidas, principalmente quando falamos em jovens grávidas solteiras.

    Não é só a mãe adolescente que tem o papel principal embora seja ela que sofrerá maiores mudanças mas, o pai adolescente também deve ser referido. O pai normalmente tem dois a três anos mais velhos que a jovem grávida. E nestes casos, a paternidade precoce associa-se com uma maior frequência ao abandono dos estudos, trabalhos aquém da sua qualificação e é nesta faixa que se encontram uma maior incidência dos divórcios.

    Devido à dificuldade que muitas das vezes a mãe adolescente sente sobre a sua nova condição esta pode vir a abandonar o seu próprio filho, dando-o para adopção ou entregando-o a terceiros (avós) para ficarem aos seus cuidados. Quando o recém-nascido não é abandonado, está mais sujeito quando comparado à população geral, a maus-tratos. Deveria existir um apoio à maternidade adolescente para que esta jovem mãe não interrompe os seus estudos e garantindo uma gravidez saudável.

    Não se pode desprezar o apoio psicológico a estas jovens mães para que estas consigam reconstruir a sua auto-estima, a sua rede de relações bem como a sua identidade e resgate da sua cidadania. Também é importante dar uma atenção à família destes adolescentes para minimizar problemas de relacionamento que possam surgir evitando a desintegração social e familiar.

    Segundo alguma literatura existe uma maior probabilidade de esta criança nascer com baixo peso, apresentar doenças respiratórias, trauma obstétrico, além de existir uma maior frequência de doenças perinatais e mortalidade infantil. Deve-se realçar que estes riscos se associam não só à idade materna mas, principalmente a outros factores, como por exemplo a baixa escolaridade, pré-natal inadequado ou não realizado, baixa condição sócio-económico, intervalos interpartais curtos (< de 2 anos) e estado nutricional materno comprometido. Todas estas complicações biológicas tendem a ser tanto ou mais frequentes quanto mais jovem a mãe (15 anos) ou quando a idade ginecológica for menor de 2 anos.

    Ao proporcionarmos a ajuda necessária para uma boa saúde poderá evitar problemas que possam surgir durante a gravidez e parto para as adolescentes e melhora as condições de saúde dos seus filhos/netos.

 

 

 

 

      

 

Dra. Olga Correia

Psicóloga do Desenvolvimento e Educação

 

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